segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Vírus: Vivos ou Não?!

Os vírus são muito simples e pequenos (medem menos de 0,2 µm), formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético, que, dependendo do tipo de vírus, pode ser o DNA, RNA ou os dois juntos (citomegalovírus). A palavra vírus vem do Latim virus que significa fluído venenoso ou toxina. Atualmente é utilizada para descrever os vírus biológicos, além de designar, metaforicamente, qualquer coisa que se reproduza de forma parasitária, como ideias. O termo vírus de computador nasceu por analogia. A palavra vírion ou víron é usada para se referir a uma única partícula viral que estiver fora da célula hospedeira.

Vírus é uma partícula basicamente proteica que pode infectar organismos vivos. Vírus são parasitas obrigatórios do interior celular e isso significa que eles somente se reproduzem pela invasão e possessão do controle da maquinaria de auto reprodução celular. O termo vírus geralmente refere-se às partículas que infectam eucariontes (organismos cujas células têm carioteca), enquanto o termo bacteriófago ou fago é utilizado para descrever aqueles que infectam procariontes (domínios Bacteria e Archaea).

Tipicamente, estas partículas carregam uma pequena quantidade de ácido nucleico (seja DNA ou RNA, ou os dois) sempre envolto por uma cápsula proteica denominada capsídeo. As proteínas que compõe o capsídeo são específicas para cada tipo de vírus. O capsídeo mais o ácido nucleico que ele envolve são denominados nucleocapsídeo. Alguns vírus são formados apenas pelo núcleo capsídeo, outros, no entanto, possuem um envoltório ou envelope externo ao nucleocapsídeo. Esses vírus são denominados vírus encapsulados ou envelopados.

O envelope consiste principalmente em duas camadas de lipídios derivadas da membrana plasmática da célula hospedeira e em moléculas de proteínas virais, específicas para cada tipo de vírus, imersas nas camadas de lipídios.

São as moléculas de proteínas virais que determinam qual tipo de célula o vírus irá infectar. Geralmente, o grupo de células que um tipo de vírus infecta é bastante restrito. Existem vírus que infectam apenas bactérias, denominadas bacteriófagos, os que infectam apenas fungos, denominados micófagos; os que infectam as plantas e os que infectam os animais, denominados, respectivamente, vírus de plantas e vírus de animais.

Os vírus não são constituídos por células, embora dependam delas para a sua multiplicação. Alguns vírus possuem enzimas. Por exemplo o HIV tem a enzima Transcriptase Reversa que faz com que o processo de Transcrição reversa seja realizado (formação de DNA a partir do RNA viral). Esse processo de se formar DNA a partir de RNA viral é denominado retrotranscrição, o que deu o nome retrovírus aos vírus que realizam esse processo. Os outros vírus que possuem DNA fazem o processo de transcrição (passagem da linguagem de DNA para RNA) e só depois a tradução. Estes últimos vírus são designados de adenovírus.

Vírus são parasitas intracelulares obrigatórios: a falta de hialoplasma e ribossomos impede que eles tenham metabolismo próprio. Assim, para executar o seu ciclo de vida, o vírus precisa de um ambiente que tenha esses componentes. Esse ambiente precisa ser o interior de uma célula que, contendo ribossomos e outras substâncias, efetuará a síntese das proteínas dos vírus e, simultaneamente, permitirá que ocorra a multiplicação do material genético viral.

Devido ao uso da maquinaria das células do hospedeiro, os vírus tornam-se difíceis de matar. As mais eficientes soluções médicas para as doenças virais são, até agora, as vacinas para prevenir as infecções, e drogas que tratam os sintomas das infecções virais. Os pacientes frequentemente pedem antibióticos, que são inúteis contra os vírus, e seu abuso contra infecções virais é uma das causas de resistência antibiótica em bactérias. Diz-se, às vezes, que a ação prudente é começar com um tratamento de antibióticos enquanto espera-se pelos resultados dos exames para determinar se os sintomas dos pacientes são causados por uma infecção por vírus ou bactérias.

Os bacteriófagos podem ser vírus de DNA ou de RNA que infectam somente organismos procariotos. São formados apenas pelo nucleocapsídeo, não existindo formas envelopadas. Os mais estudados são os que infectam a bactéria intestinal Escherichia coli, conhecida como fagos T. Estes são constituídos por uma cápsula proteica bastante complexa, que apresenta uma região denominada cabeça, com formato poligonal, envolvendo uma molécula de DNA, e uma região denominada cauda, com formato cilíndrico, contendo, em sua extremidade livre, fibras proteicas.

A reprodução ou replicação dos bacteriófagos, assim como os demais vírus, ocorre somente no interior de uma célula hospedeira.

Existem basicamente dois tipos de ciclos reprodutivos: o ciclo lítico e o ciclo lisogênico. Esses dois ciclos iniciam com o fago T aderindo à superfície da célula bacteriana através das fibras proteicas da cauda. Esta contrai-se, impelindo a parte central, tubular, para dentro da célula, à semelhança, de uma micro seringa. O DNA do vírus é, então, injetado fora da célula a cápsula proteica vazia. A partir desse momento, começa a diferenciação entre ciclo lítico e ciclo lisogênico.

No ciclo lítico, o vírus invade a bactéria, onde as funções normais desta são interrompidas na presença de ácido nucléico do vírus (DNA ou RNA). Esse, ao mesmo tempo em que é replicado, comanda a síntese das proteínas que comporão o capsídeo. Os capsídeos organizam-se e envolvem as moléculas de ácido nucléico. São produzidos, então novos vírus. Ocorre a lise, ou seja, a célula infectada rompe-se e os novos bacteriófagos são liberados. Sintomas causados por um vírus que se reproduz através desta maneira, em um organismo multicelular aparecem imediatamente. Nesse ciclo, os vírus utilizam o equipamento bioquímico (Ribossomo) da célula para fabricar sua proteína (Capsídeo).

No ciclo lisogênico, o vírus invade a bactéria ou a célula hospedeira, onde o DNA viral incorpora-se ao DNA da célula infectada. Isto é, o DNA viral torna-se parte do DNA da célula infectada. Uma vez infectada, a célula continua suas operações normais, como reprodução e ciclo celular. Durante o processo de divisão celular, o material genético da célula, juntamente com o material genético do vírus que foi incorporado, sofrem duplicação e em seguida são divididos equitativamente entre as células-filhas. Assim, uma vez infectada, uma célula começará a transmitir o vírus sempre que passar por mitose e todas as células estarão infectadas também. Sintomas causados por um vírus que se reproduz através desta maneira, em um organismo multicelular podem demorar a aparecer. Doenças causadas por vírus lisogênico tendem a ser incuráveis. Alguns exemplos incluem a AIDS e herpes.

Sob determinadas condições, naturais e artificiais (tais como radiações ultravioleta, raios X ou certos agentes químicos), uma bactéria lisogênica pode transformar-se em não-lisogênica e iniciar o ciclo lítico.

Em muitos casos os vírus modificam o metabolismo da célula que parasitam, podendo provocar a sua degeneração e morte. Para isso, é preciso que o vírus inicialmente entre na célula: muitas vezes ele adere à parede da célula e "injeta" o seu material genético ou então entra na célula por englobamento - por um processo que lembra a fagocitose, a célula "engole" o vírus e o introduz no seu interior.

Vírus não têm qualquer atividade metabólica quando fora da célula hospedeira: eles não podem captar nutrientes, utilizar energia ou realizar qualquer atividade Biosintética. Eles obviamente se reproduzem, mas diferentemente de células, que crescem, duplicam seu conteúdo para então dividir-se em duas células filhas, os vírus replicam-se através de uma estratégia completamente diferente: eles invadem células, o que causa a dissociação dos componentes da partícula viral; esses componentes então interagem com o aparato metabólico da célula hospedeira, subvertendo o metabolismo celular para a produção de mais vírus.

Há grande debate na comunidade científica sobre se os vírus devem ser considerados seres vivos ou não, e esse debate e primariamente um resultado de diferentes percepções sobre o que vem a ser vida, em outras palavras, a definição de vida. Aqueles que defendem a ideia que os vírus não são vivos argumentam que organismos vivos devem possuir características como a habilidade de importar nutrientes e energia do ambiente, devem ter metabolismo (um conjunto de reações químicas altamente inter-relacionadas através das quais os seres vivos constroem e mantêm seus corpos, crescem e pré-formam inúmeras outras tarefas, como locomoção, reprodução, etc.); organismos vivos também fazem parte de uma linhagem contínua, sendo necessariamente originados de seres semelhantes e, através da reprodução, gerar outros seres semelhantes (descendência ou prole), etc.

Os vírus preenchem alguns desses critérios: são parte de linhagens contínuas, reproduzem-se e evoluem em resposta ao ambiente, através de variabilidade e seleção, como qualquer ser vivo. Porém, não têm metabolismo próprio, por isso deveriam ser considerados "partículas infecciosas", ao invés de seres vivos propriamente ditos. Muitos, porém, não concordam com essa perspectiva, e argumentam que uma vez que os vírus são capazes de reproduzir-se, são organismos vivos; eles dependem do maquinário metabólico da célula hospedeira, mas até ali todos os seres vivos dependem de interações com outros seres vivos. Outros ainda levam em consideração a presença massiva de vírus em todos os reinos do mundo natural, sua origem - aparentemente tão antiga como a própria vida - sua importância na história natural de todos os outros organismos, etc. Conforme já mencionado, diferentes conceitos a respeito do que vem a ser vida formam o cerne dessa discussão. Definir vida tem sido sempre um grande problema, e já que qualquer definição provavelmente será evasiva ou arbitrária, dificultando assim uma definição exata a respeito dos vírus.

No homem, inúmeras doenças são causadas por esses seres acelulares. Praticamente todos os tecidos e órgãos humanos são afetados por alguma infecção viral. Abaixo você encontra as viroses mais frequentes na nossa espécie. Valorize principalmente os mecanismos de transmissão e de prevenção. Note que a febre amarela e dengue são duas viroses que envolvem a transmissão por insetos (mosquito da espécie Aedes aegypti). Para a primeira, existe vacina. Duas viroses relatadas abaixo, AIDS e condiloma acuminado, são doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). A tabela também relaciona viroses comuns na infância, rubéola, caxumba, sarampo, poliomielite - para as quais existem vacinas.

Algumas das principais viroses que acometem os seres humanos:
  • Resfriado Comum e Gripe: Embora causados por vírus diferentes, seus sintomas são semelhantes: coriza, obstrução nasal, tosse e espirro; a febre geralmente só aparece nos casos de gripe. Ambas as doenças são transmitidas por gotículas eliminadas pelas vias respiratórias (fala, espirro, tosse, etc.). Recomenda-se apenas repouso, boa alimentação, ingestão de uma grande quantidade de líquidos e, se necessário, antitérmicos e descongestionantes. Se os sintomas persistirem por mais de uma semana é necessário consultar o médico.
  • Poliomielite: Na maioria das pessoas essa virose causa apenas febre e mal-estar, no entanto, em alguns indivíduos ela pode atacar o sistema nervoso, provocando paralisia. O vírus penetra através de alimentos contaminados ou por contato com a saliva do doente. Uma vez instalada a doença, não há um procedimento específico para curá-la, sendo feito apenas um tratamento fisioterápico nos casos em que ocorre paralisia (a doença é conhecida também como paralisia infantil, embora não ataque apenas crianças), visando melhorar a coordenação muscular. Assim sendo, para evitar tal doença é muito importante que os pais vacinem seus filhos na época recomendada pelo médico.
  • Febre Amarela: É causada por um vírus transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti (nas cidades) e do mosquito do gênero Haemagogus (no campo). Provoca febre, vômito, dor no estômago e lesões no fígado, o que torna a pele amarelada (icterícia). O tratamento visa apenas a compensar a desidratação e a perda de sangue para dar tempo ao organismo de reagir, mas em alguns casos pode ocorrer morte por problemas cardíacos ou renais. A prevenção é feita pelo combate ao mosquito e pela vacinação, principalmente nas pessoas que vivem ou se dirigem para as regiões onde a doença se manifesta.
  • Raiva: Essa doença fatal ataca o sistema nervoso. A contração dos músculos responsáveis pela deglutição torna o ato de comer e beber muito doloroso — daí a hidrofobia (hidro = água; fobia = medo, obsessão), típica da doença. É transmitida por animais domésticos, principalmente o cão e o gato, sendo por isso obrigatória a vacinação e o recolhimento dos animais soltos na rua. Pode ser transmitida também por outros animais como ratos e morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue). Quando uma pessoa ê mordida por qualquer animal, deve-se lavar o local da ferida várias vezes com água e sabão e depois aplicar um desinfetante. O médico deve ser avisado e se houver risco de contrair o vírus, a vítima recebe soro e vacina antirábicos, que evitam a doença.
  • Hepatite Viral: A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por parasitas. A hepatite viral é provocada por cinco tipos de vírus diferentes: A, B, C, D e E. Os sintomas das diversas formas são parecidos: icterícia (pele e olhos amarelados), febre, náuseas, vômitos, falta de apetite etc. Transmitida por água e alimentos contaminados, a hepatite A normalmente regride sozinha com repouso e dieta adequada. A hepatite B é transmitida principalmente por sangue, derivados dele e relações sexuais. Embora na maioria dos casos a doença desapareça sem deixar conseqüências, 5% dos pacientes necessitam de hospitalização e 10% tornam-se doentes crônicos e podem desenvolver cirrose (lesões no fígado) e câncer de fígado. Para esta forma de hepatite (B) já existe uma vacina eficaz. A evolução das hepatites C e D é semelhante à da hepatite B (mas não há vacinas), enquanto o tipo E evolui de modo semelhante ao tipo A.
  • Herpes: O vírus produz pequenas vesículas cheias de líquido que quando arrebentam formam feridas nas mucosas ou na pele, com mais freqüência nos lábios (herpes simples) ou na região genital (herpes genital). Embora as feridas cicatrizem em poucos dias, o vírus permanece no organismo e pode provocar novas lesões. A transmissão se dá por contato direto com o portador. Há medicamentos que, embora não curem a doença, diminuem muito a freqüência e a intensidade dos sintomas.
  • Dengue: É transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, pequeno e de cor escura, que vive nas regiões urbanas e tem hábitos diurnos. Alguns dias depois da picada (período de incubação), há febre alta com duração de quatro a sete dias, dores musculares e articulares (daí o nome popular de "quebra-ossos"), na cabeça e nos olhos — pode haver fotofobia (aversão à luz) —, inflamação na garganta e sangramento na boca e no nariz. Fora isso, há possibilidade de surgimento de manchas avermelhadas na pele semelhantes às do sarampo. Cerca de uma semana depois, essas manifestações começam a desaparecer aos poucos, mas em pessoas subnutridas e debilitadas a doença pode levar à morte. A dengue não tem tratamento específico: o doente deve ficar de repouso, ingerir muito líquido e tomar medicamentos para dor e febre, indicados pelo médico. A prevenção é a mesma que a contra a febre amarela: como o mosquito põe seus ovos em águas paradas e limpas, devemos conservar tampados caixas-d'água, poços e cisternas, trocando semanalmente a água de vasos de plantas e impedindo o acúmulo de objetos que retenham água, como pneus, latas, garrafas etc. Quem já teve dengue — mesmo de uma forma assintomática (sem sintomas) — ou quem é portador de doença crônica, como a diabetes, a artrite reumatóide ou o lúpus, está sujeito a contrair a dengue hemorrágica, provocada por outro tipo de vírus. Ela começa do mesmo modo que a outra dengue, mas, quando termina a fase febril, os sintomas se agravam, com queda de pressão arterial, hemorragias da pele, intestino e gengivas, e aumento no tamanho do fígado. Neste caso, as pessoas devem permanecer em observação no hospital, uma vez que, se não houver assistência médica, a doença pode levar o paciente à morte em 10% dos casos.
  • Sarampo: Ataca principalmente crianças até dez anos de idade, provocando tosse, febre alta e manchas vermelhas no corpo. O doente fica curado naturalmente em poucos dias, mas, sobretudo em crianças subnutridas, podem ocorrer complicações, como a broncopneumonia, provocadas por bactérias e que exigem pronto atendimento médico. A transmissão se dá de um doente para outro por eliminação do vírus pelas vias respiratórias. A prevenção é feita pela vacina.
  • Rubéola: É também típica de crianças, produzindo sintomas semelhantes aos da gripe e manchas rosadas na pele, menores que as do sarampo. Tem evolução benigna, mas nas mulheres grávidas, o vírus pode passar através da placenta e provocar problemas no feto (surdez, doenças cardíacas etc). A prevenção é feita com a vacina.
  • Catapora (Varicela): Ataca principalmente crianças, provocando febre, enjôo, vômitos e pequenas bolhas no corpo. O doente melhora sozinho em poucos dias, mas é necessário procurar o médico e manter a criança isolada. Não se deve coçar as bolhas, para evitar contaminação por bactérias. Não há vacina específica e em alguns casos o vírus pode permanecer em estado latente e, mais tarde, no adulto, provocar bolhas na pele e febre alta: é o berpes-zoster ou "cobreiro".
  • Caxumba: Provoca inflamação da parótida, uma glândula salivar (daí o nome parotidite). A cura é espontânea, mas o doente deve ficar em repouso. Entretanto, principalmente nos adultos, ela pode trazer complicações para outros órgãos, como os testículos (neste caso, pode causar esterilidade).
  • Condiloma ou Verruga Genital: É causado pelo vírus HPV (papiloma vírus) que provoca lesões em forma de "verrugas" na vulva, vagina e pênis, sendo transmitido pelo ato sexual. A lesão deve ser retirada com bisturi elétrico ou produtos químicos. Mulheres que têm ou tiveram o vírus devem fazer exames ginecológicos periódicos, já que alguns subtipos do vírus têm relação com o câncer no colo do útero.
  • Aids: A Aids é um processo de destruição do sistema imunológico, que é um conjunto de células que defendem o corpo contra infecções e alguns tipos de câncer. Por isso, os doentes de Aids apresentam uma grande vulnerabilidade a infecções por germes chamados oportunistas, que para eles são fatais. Vem daí o nome da doença: Aids é a sigla de "Acquired Immunodeficiency Syndrome" (Síndrome da imuno-deficiência adquirida), o que significa que esta deficiência imunológica não é herdada dos pais, mas adquirida pelo contato com o vírus (o termo síndrome indica um conjunto de sinais e sintomas de uma doença). O nome do vírus adotado oficialmente é HIV, iniciais de "human immunodeficiency virus" — o vírus da imunodeficiência humana. Há dois tipos: o HIV-1, responsável pela quase totalidade dos casos, e o HIV-2, que é bem mais raro e produz uma forma um pouco menos agressiva da doença. A maioria das pessoas não apresenta nenhum sintoma logo após ter sido contaminada pelo vírus (mas é importante saber que, mesmo sem sintomas, ela pode transmitir o vírus para outras pessoas). Duas a quatro semanas depois do contato com o vírus, é possível que ocorram febre, diarréia, cansaço, falta de ar, aumento dos gânglios linfáticos nas axilas, pescoço e virilha, manchas avermelhadas na pele, sapinho (candidíase) e uma série de sintomas que podem aparecer em outras doenças, como a mononucleose. Por isso, somente um diagnóstico médico é capaz de indicar se a pessoa tem realmente a doença. Uma ou duas semanas depois os sintomas desaparecem, mas o vírus continua a se reproduzir no corpo. Após um tempo variável, surgem as infecções oportunistas, acompanhadas por emagrecimento e fraqueza. Uma vez instalada a doença, ela é fatal. O contágio ocorre principalmente através de esperma, sangue, leite materno e secreções vaginais, que entram em contato com o sangue de outra pessoa através de lesões na pele ou mucosas. Portanto, a infecção pode acontecer nas relações sexuais, transfusões, gravidez, parto, amamentação e uso de agulhas e outros instrumentos contaminados (bisturis, tesouras etc). Até a década de 1990, não foi registrado nenhum caso de contágio do vírus da Aids através de picadas de mosquito, apertos de mão, abraços, beijos sociais, tosse, espirro, uso de piscinas ou uso comum de roupas, toalhas, copos, talheres, privadas, serviços de lavanderia etc. Existem pessoas infectadas há mais de quinze anos que ainda não desenvolveram a doença. Não se sabe ainda por que; talvez elas sejam resistentes ao vírus da Aids. Tanto os doentes quanto os portadores assintomáticos podem ser identificados através de testes em amostras de sangue. O mais usado é o Elisa. Mas como há a possibilidade de um resultado positivo falso, é necessário submeter a amostra duas vezes ao teste ou recorrer a um teste mais preciso, como o Western-Blot. Ainda não existe cura para a Aids, mas medicamentos como o AZT, ddI, ddC, que inibem a enzima transcriptase reversa, e os chamados inibidores de proteases (outra enzima de vírus) prolongam a vida do paciente e melhoram suas condições de existência. Os doentes devem ter acompanhamento médico constante, de modo que as infecções possam ser prontamente identificadas (como a pneumonia, o herpes, a candidíase) e tratadas com antibióticos e outras medicações específicas. As vacinas contra a Aids estão em fase experimental, mas a capacidade que o vírus tem de sofrer mutações, produzindo novas linhagens de vírus imunes aos anticorpos contra as linhagens antigas, diminui a probabilidade de se conseguir uma vacina eficaz. A melhor proteção contra a transmissão da Aids por via sexual é o uso do preservativo masculino ou camisinha. Para prevenir-se contra a transmissão por via endovenosa (pelo sangue) é necessário controlar os bancos de sangue e utilizar apenas seringas ou agulhas descartáveis. Mulheres portadoras do vírus não devem ficar grávidas; e os instrumentos que possam ser contaminados pelo sangue de pessoas infectadas devem ser esterilizados.
  • Vírus e Câncer: O câncer aparece quando certos genes que controlam o crescimento e a divisão celular sofrem alguma alteração, que pode ser provocada por radiação, produtos químicos ou certos tipos de vírus, como o HTLV-1 (human T-cell lymphotrophic vírus type 1). Este vírus é similar ao da Aids e, em vez de destruir as células de defesa do organismo, como faz o vírus da Aids, faz com que elas se reproduzam descontroladamente, provocando leucemia. O vírus se transmite por transfusão sanguínea, contato sexual, seringas contaminadas e amamentação.
  • Os Vírus Emergentes: Febre alta, dores no corpo, vômito, diarréia e hemorragias generalizadas nos órgãos e na pele, que se rasga e se solta dos ossos, com o sangue saindo por todos os poros do corpo. Em cerca de dez dias a pessoa morre: são os sintomas da febre hemorrágica causada pelo vírus Ebola. Esse vírus apareceram pela primeira vez em 1967, quando matou sete pessoas na cidade alemã de Marburgo. Voltou a aparecer em 1976, no Sudão e no Zaire (às margens do rio Ebola, de onde se origina o nome do vírus), matando centenas de pessoas e, novamente, no Zaire, em 1995, dizimando cerca de cem pessoas. O vírus é transmitido de uma pessoa contaminada para outra pelo contato direto com sangue, suor, saliva e sêmen. Mata 90% das vítimas, destruindo seus vasos sanguíneos. Não há tratamento específico, mas se as vítimas forem isoladas e mantidas em condições higiênicas adequadas, a epidemia pode ser controlada. O Ebola faz parte de um grupo de vírus que circulam há muito tempo em animais que vivem em áreas não habitadas pelo homem ou em populações humanas isoladas (no caso do Ebola, o reservatório, isto é, o animal que abriga o vírus, parece ser uma espécie de macaco). Com a chegada do homem nesses ambientes, o vírus começa a se espalhar na população humana. Por isso, esses vírus são chamados de “Vírus emergentes”, já que saem ou emergem de seu habitat natural. No Brasil encontramos: o Rocio, descoberto em 1975, na localidade de mesmo nome no sul do estado de São Paulo, que provoca hemorragias e lesões neurológicas; o hantavírus Juquitiba, identificado em 1993, em Juquitiba, São Paulo, causador de problemas respiratórios; o Sabiá, descoberto no condomínio Jardim Sabiá, no município paulista de Cotia, e que, como o Ebola, provoca febre hemorrágica.
 

Humanos E Vírus: Uma União Duradoura
O estudo da evolução humana tem priorizado os ancestrais hominídeos e desconsiderado os outros organismos que se desenvolveram no mesmo ambiente que a espécie humana.

Espécies usadas na alimentação, espécies predadoras e agentes causadores de doenças desempenharam funções importantes na evolução humana. Como causa significativa de mortalidade e morbidade (enfermidade) e graças à sua capacidade de atuar como parasitas genéticos moleculares, os vírus ocupam uma posição estratégica na evolução de seus hospedeiros.

Já faz algumas décadas que a luta contra as doenças infecciosas vem sendo considerada um importante processo evolutivo. Uma doença que mata ou diminui a fertilidade de determinada espécie pode ser considerada um agente seletivo. Ela pode trazer vantagens ou desvantagens para uma espécie em competição com outras. A maioria das espécies apresenta diversidade genética para a formação de anticorpos que atuam na resistência a doenças. Considerando-se a velocidade com que novos patógenos se desenvolvem (em geral muito mais rápido que as defesas do hospedeiro), é interessante que o hospedeiro possua diversidade genética e elevada taxa de mutação nos lócus gênicos relacionados à resistência a doenças.

Os vírus podem afetar também a evolução de seus hospedeiros, interagindo diretamente com seu DNA. Devido a sua simplicidade estrutural e sua dependência da maquinaria de replicação e transcrição da célula hospedeira, os vírus atuam como parasitas genéticos moleculares, podendo alterar o genoma do hospedeiro. Os vírus animais são agrupados em famílias, de acordo com a natureza de seu genoma viral: existem vírus de DNA de fita dupla, vírus de DNA de fita simples, vírus de RNA de fita dupla, vírus de RNA de fita simples. Os últimos, de acordo com sua estratégia de replicação, podem ser de fita positiva ou de fita negativa (retrovírus).

O genoma de quase todos os vírus de DNA é constituído por DNA de fita dupla, semelhante ao genoma das células que infectam. Essa similaridade em estrutura e replicação propicia a esses vírus de DNA uma relação molecular muito íntima com o genoma de seus hospedeiros, ao qual são capazes de se integrar, sendo passados para a próxima geração como se fossem uma característica mendeliana. Comparados com os vírus de RNA, os vírus de DNA tendem a infectar tipos específicos de células de uma única espécie hospedeira. Muitos vírus de DNA adotam a persistência como estratégia de vida, o que resulta em infecções crônicas e latentes do hospedeiro com longos períodos de inatividade do vírus e também em sua capacidade de se manter em pequenas populações de hospedeiros por períodos prolongados. Os vírus de DNA tendem, portanto, a ser mais estáveis que os vírus de RNA.

Os primeiros hominídeos provavelmente já transportavam vários tipos de vírus de DNA, que se diversificaram e migraram juntamente com a população humana. As filogenias desses grupos de vírus coincidem com as relações evolutivas de seus hospedeiros primatas, indicando um padrão de coevolução.

O genoma de aproximadamente 70% dos vírus que infectam animais se apresenta na forma de RNA. O processo de replicação desses vírus é mais propenso a erros, com elevadas taxas de substituição de nucleotídeos (de 10 a 100 mil vezes maior que as dos vírus de DNA e genoma celular) pelas enzimas virais, que tipicamente não possuem sistema de reparo (detecção do nucleotídeo emparelhado de forma incorreta e substituição pelo nucleotídeo correto). Desse modo, os vírus de RNA possuem elevada taxa de mutação, o que lhes confere incrível capacidade de se adaptar a novos hospedeiros e de aumentar sua virulência. Os vírus de RNA são menos específicos em relação ao hospedeiro que os vírus de DNA e podem se transmitir facilmente entre diferentes espécies animais: quase todas as zoonoses virais (doenças transmitidas por qualquer animal para o ser humano) e vírus emergentes são vírus de RNA.

Apesar de alguns vírus de RNA causarem infecções inaparentes em hospedeiros que são seus reservatórios naturais, a maioria realiza ciclos contínuos de replicação e montagem de novos vírus, que afetam o hospedeiro.

A maioria dos vírus de RNA que afeta humanos foi adquirida mais recentemente, durante o período Neolítico, há aproximadamente 10 mil anos, quando os seres humanos e os animais domésticos entraram em contato mais íntimo, e os excedentes agrícolas e a diminuição da vida nômade atraíram os roedores transportadores de doenças.

Os retrovírus são vírus de RNA, e esse ácido nucléico é transcrito de forma reversa por uma enzima do próprio vírus, chamada transcriptase reversa. Com isso, gera-se uma cópia de DNA a partir do RNA. Essa cópia, chamada provírus, incorpora-se ao DNA nuclear da célula hospedeira e pode ser transcrita em moléculas de RNA. Estas passam para o citoplasma, onde comandam a síntese de proteínas virais, gerando muitos novos vírus. As taxas de mutação dos retrovírus são ainda maiores que as dos demais vírus de RNA.

O provírus inserido no genoma celular pode ser replicado pela DNA polimerase da célula hospedeira com taxa de erro muito menor. Integrados ao genoma hospedeiro, esses vírus escapam igualmente da detecção pelo sistema imunológico, tornando-se semelhantes aos vírus de DNA. Os retrovírus que tendem a se integrar ao genoma, como o vírus dos linfócitos T humanos (HTLV), são caracterizados por menores taxas de mutação e menor diversidade de seqüência nucleotídica, enquanto os retrovírus que produzem ciclos contínuos de replicação, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), apresentam populações geneticamente mais diversas e taxas de mutação mais rápidas. Estima-se que exista um nucleotídeo diferente no genoma do HIV para cada ser humano infectado.

Os provírus integrados ao genoma do hospedeiro, conhecidos como retrovírus endógenos e que perderam a capacidade de produzir partículas infecciosas, tiveram suas seqüências nucleotídicas multiplicadas e inseridas em vários pontos do genoma hospedeiro. Estima-se que 8% do genoma humano seja constituído por seqüências de retrovírus endógenos.

Dada sua habilidade em se inserir em regiões adjacentes aos lócus gênicos, os retrovírus endógenos humanos podem ter afetado diretamente a expressão gênica do hospedeiro e participado do processo evolutivo humano.



Atividades sobre Vírus

01. (UFBA) A caracterização do vírus como ser vivo está relacionada com a capacidade de:
a) sobreviver em meios de cultura artificiais mantidos em laboratório.
b) realizar a síntese de proteínas, utilizando seus próprios ribossomos.
c) reproduzir-se e sofrer modificações nas suas características hereditárias.
d) apresentar simultaneamente, moléculas de DNA e RNA na sua organização.
 

02. (UFPB) Todos os vírus são constituídos por:
a) DNA e proteínas
b) aminoácidos e água
c) ácidos nucléicos e proteínas
d) DNA e RNA
e) RNA e proteínas
 

03. (UFRN) O vírus da AIDS é formado por uma cápsula esférica contendo em seu interior o material genético. Esse tipo de vírus é chamado retrovírus porque:
a) o RNA produz um “molde” de moléculas de DNA
b) o RNA torna-se uma molécula autoduplicável.
c) o DNA possui cadeia simples sem timina.
d) o DNA possui mecanismos de retroação
e) o DNA e o RNA não se pareiam
 

04. (FUVEST-SP) Indique a alternativa que apresentam apenas viroses:
a) coqueluche, tétano, difteria
b) sarampo, herpes, malária
c) herpes, cólera e raiva
d) catapora, gripe e esquistossomose
e) rubéola, febre amarela, poliomielite.
 

05. A febre amarela é uma:
a) verminose adquirida por contato com fezes.
b) virose transmitida por um mosquito
c) amebíase transmitida por águas contaminadas.
d) verminose transmitida por um caramujo
e) infecção bacteriana de origem hospitalar.
 

06. (PUC-SP) Os linfócitos T estão estreitamente relacionados à AIDS porque:
a) podem ser destruídos pelo vírus diminuindo, assim a defesa contra infecções
b) seu número aumenta muito, diminuindo a incidência de infecções secundárias.
c) não têm afinidade com as moléculas protéicas do envelope do vírus.
d) combatem eficazmente o vírus, englobando-o e impedindo sua ação.
e) produzem anticorpos eficazes contra o vírus.
 
07. (UFPA) Uma dificuldade enfrentada pelos pesquisadores que buscam uma vacina para combater e prevenir a AIDS deve-se ao fato de o vírus da AIDS:
a) não possuir a enzima transcritase reserva
b) sofrer constantes mutações no seu material genético.
c) alternar seu material genético entre DNA e RNA
d) ser um vírus de RNA, para os quais é impossível
e) possuir uma cápsula lipídica que impede a ação da vacina.
 

08. (PUC-MG) Em 1917, o sábio francês D’hgrelle verificou que uma cultura de bacilos da disenteria estava sendo destruída por um agente cuja visualização não era possível de ser feita. Isso constituiu-se na primeira constatação da existência de vírus que somente atacam bactérias. Mais tarde, esses vírus foram genericamente denominados:
a) bacteriostáticos
b) bacteriófagos
c) bacteróides
d) bactérios
e) bactericidas
 

09. (UEPB) Em relação a AIDS (síndrome de imunodeficiência adquirida), analise as proposições a seguir:
1. É causada por um retrovírus;
2. Pode ser transmitida pelo leite materno das mães contaminadas pelo HIV;
3. O uso de preservativos durante as relações sexuais é uma das principais medidas profiláticas;
4. A transmissão é frequente pelo contato de mãos.
Considerando o estágio atual de conhecimento, estão corretos:
a) 1, 3 e 4 apenas
b) 2 e 4 apenas
c) 1, 2 e 3 apenas
d) 2 e 3 apenas
e) 1, 2, 3 e 4
 

10. (UFPE) EM relação aos vírus, analise as proposições abaixo:
01. São agentes infecciosos específicos de células animais.
02. Em laboratórios, sobrevivem em meios de culturas artificiais.
04. Causam doenças, tais como gripe, sarampo, catapora, poliomielite, herpes.
06. Multiplicam-se apenas no interior das células que parasitam.
08. Sintetizam proteína, usando seus próprios ribossomos.

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